Tradicionalmente, o Eiswein (ou vinho do gelo em alemão) é um vinho de sobremesa especial e raro, produzido a partir de uvas naturalmente congeladas. Quando as uvas são prensadas, a água, ainda sólida, não escorre através das prensas e se obtém apenas o néctar concentrado das uvas. Cada videira rende muito poucas uvas, às vezes é o bastante para produzir apenas uma garrafa. Por essas e por outras, é considerado um dos vinhos mais caros do mundo.
A história do Eiswein não é tão recente, datada no final do século XVIII, quando foi descoberto por acaso na Francônia, Alemanha. Tentou-se fazer vinhos das uvas que ainda não haviam sido colhidas e ao se prensá-las ainda congeladas, um desastre, pouquíssimo suco para fazer o vinho. Mesmo assim, levou-se adiante a fermentação e o resultado foi surpreendente.
Apenas em meados do século XX, que os viticultores alemães começaram a produzir o Eiswein de forma intencional e técnica. Antes, nem se pensava em “desperdiçar” as uvas em um vinho com tão baixo rendimento. Hoje os alemães e os austríacos fazem eiswein apenas com as melhores uvas dos vinhedos e tradicionalmente se usa a Riesling, mas também utilizam outras castas, desde a nativa Scheurebe, até a tinta Pinot Noir.
A partir da década de noventa, o Canadá, com seu clima propício, entrou na concorrência pela produção de Icewines (nome inglês dado pelos canadenses). O sucesso foi tanto, que hoje em dia, o país é reconhecido como o maior produtor do mundo deste tipo de vinho. Graças à sua popularização, diversos outros países resolveram embarcar na difícil tarefa de produzir Icewines, dentre eles: Estados Unidos, Hong Kong, Nova Zelândia, Israel e mais recentemente, o Brasil.
Então, surge a pergunta – Como países sem invernos rigorosamente frios conseguem produzi-los? A resposta é simples. Viticultores criativos congelam artificialmente suas uvas. Mas é claro, que isso foge do método tradicional, gerando icewines de qualidade duvidosa.
Este não é o caso do Brasil. Aqui, a primeira safra de uvas congeladas naturalmente foi colhida em 2009, pela vinícola Pericó, em São Joaquim, na Serra Catarinense. O néctar é assinado pelo enólogo da casa, Jefferson Sancineto Nunes, um visionário que apostou nas condições favoráveis do sul do país para produzir o primeiro icewine brasileiro. Além do terroir, outro grande diferencial do produto brasileiro é levar em sua composição apenas a variedade tinta Cabernet Sauvignon. Segundo nosso curador, Mauricio Szapiro: “degustar este vinho é imaginar-se colhendo uvas congeladas na Serra catarinense”.
Com tanta pompa assim, o que faz deste vinho tão especial? De acordo com o nosso curador Cristiano Lanna: "É um vinho doce natural, sem adição de aguardente, como o Porto ou o Jerez, e que conta com ótima acidez, deixando-o perfeitamente equilibrado e refrescante".
O icewine também não é feito de uvas “botritizadas” ou colhidas tardiamente (late harvest), como muitos outros vinhos de sobremesa, o que lhes confere paladar mais límpido e menos agressivo. Seus aromas apresentam tanto notas frutadas dos brancos jovens e secos, como toques de pêssegos, damascos, frutas secas e caramelo, como muitos vinhos de sobremesa. E na boca é untuoso, límpido mas extremamente concentrado.
É uma experiência para poucos, pois as vinhas possuem rendimento baixíssimo e apenas o néctar das uvas é extraído. Muitas vezes as geadas não chegam cedo o suficiente, as uvas acabam estragando ainda nas videiras, e a produção é toda perdida. Óbvio que isto se reflete no preço, mas é sem dúvida um vinho único, raro e especial.
Fonte: www.seloreserva.com.br