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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Rótulos

Podem ser redondos ou quadrados, pequenos ou grandes, bonitos e feios. É o que separa o produtor e o consumidor final.

Rótulos, a imagem do vinhoA rotulagem é uma indústria recente. Iniciou carreira na segunda metade do século XIX embora só depois da Segunda Grande Guerra tenha adquirido importância relevante. 
A história do rótulo liga-se a muitos aspectos da evolução social, económica e industrial. Até à segunda metade do século XIX, o vinho vendia-se todo a granel, quase sempre jovem, nas tabernas ou no negociante que lhe garantia a qualidade.




A garrafa, já bastante em voga mas de formato muito irregular, era apenas usada para estagiar colheitas especiais para clientes ainda mais especiais. Não possuía rotulagem e apenas uma indicação a giz, cal ou pintura, do seu conteúdo, quando não apenas uma marca na rolha.

Começo elitista

Com a evolução da garrafa e melhoramento de colas que o seguram à garrafa, o rótulo dá os seus primeiros passos durante a segunda metade do século XIX. Surge em ambiente cosmopolita, no vinho bebido pela aristocracia e burguesia em ascensão e tem uma dupla função: identificar o conteúdo da garrafa (proveniência exacta, a idade do vinho, nomes do produtor, do engarrafador ou do importador) e promover socialmente o seu proprietário ou consumidor.

Os primeiros rótulos franceses são feitos numa gráfica de Bordéus em 1818 mas são usados apenas por privados ou alguns negociantes. Os primeiros rótulos para o Vinho do Porto são encomendados por Dona Antónia em 1869 para engarrafar vinhos de 1812 a 1863 e em 1870 surge o primeiro rótulo da Quinta do Vesúvio de D. Antónia A. Ferreira. Mas a esmagadora maioria do vinho continuará a ser vendido a granel. 

As artes e o rótulo

Com a evolução do fabrico de garrafas, aumento do engarrafamento e desenvolvimento da litografia a rotulagem ganha terreno. A partir de 1830 esta nova técnica faz nascer a “Arte Publicitária” e cartazes e rótulos passam doravante a andar de mãos dadas na promoção do vinho e não só. 
Mas é no final do século XIX que esta técnica, então mais desenvolvida, vai dar espaço de trabalho a vários cartazistas que se irão tornar famosos com a sua Arte Nova – Gavarni, Doré, Bonnard, Viullard, Henry e Toulouse Lautrec entre outros. Na mesma época, em Portugal, o nosso conhecido pintor e aguarelista Roque Gameiro torna-se no cartazista português de maior nomeada. 
Depois outras escolas de design surgem como o cubismo, futurismo, arte deco, neorealismo, ilustracionismo de raiz naturalista, etc.
Firmas dinâmicas e empreendedoras cedo perceberam a força do cartaz e dos rótulos e eles surgem de modo exuberante e fantasista nas firmas Ramos Pinto, Ferreira, Borges etc. O princípio do século XX é pródigo na criação artística de rótulos e cartazes ligados ao tema do vinho.

Rótulo e legalidade

No período mais agudo da praga filoxera e nos anos que se lhe seguiram a Europa estava inundada de vinhos fraudulentos com rótulos enganosos. O início do século XX é caótico. A fraude é inclusivamente considerada “legítima” pela maioria dos agentes tendo em conta a falta de vinho e a necessidade de manter o negócio vivo.
Por toda a Europa, ganham forma dois conceitos fundamentais para assegurar a perenidade da indústria do vinho: a definição do produto e delimitação do espaço produtor e o seu controlo garantido por lei.
Nascem as regiões demarcadas com os seus estatutos e leis, e os rótulos adquirem os seus primeiros atributos legais. Neste princípio de século XX o rótulo para além de informar sobre o vinho engarrafado garante a sua genuinidade.
No entanto, e até finais da década de 40, o rótulo manter-se-á requisito da população citadina mais exigente porque o conceito do granel, do garrafão e do vinho “honesto” e “genuíno” do produtor, continua a reinar numa Europa rural descrente das “modas” das classes privilegiadas.
No nosso país, o cartaz de propaganda de 1930 da Junta Nacional do Vinho, desenhado por Mário Costa, com as legendas “Comam Uvas Bebam Vinho”, “Quem bebe vinho contribui para o pão de mais de um milhão de portugueses”, retratam bem o país rural que éramos e o quanto era patriótico beber muito vinho... do jarro.

A nova era

Após a Segunda Grande Guerra, o mercado de vinhos muda a nível global e o engarrafamento e rotulagem até aí, quase sempre, a cargo dos negociantes, começa a fazer parte dos trabalhos do produtor. Bordéus é um dos exemplos clássicos, onde só a partir de 1959 a maioria dos Crus Classes começou a ser disponibilizado aos negociantes depois de engarrafados e rotulados no Chateau. O Vinho do Porto teria que aguardar ainda bastantes anos para em 1996 a venda a granel ser finalmente interdita. 
A mudança, inicialmente lenta até à década de 60, com uma Europa a recuperar do esforço e trauma da guerra, tomou depois outro fôlego e após 1980 a evolução dos engarrafados e da criação de novas marcas e novos rótulos de vinho tem sido exponencial e inversamente proporcional ao consumo per capita que teima, desde então, em manter-se a descer nos países tradicionalmente produtores. 
O vinho um produto de consumo maciço desde há séculos transforma-se agora num produto de gosto, cultura e luxo. A descoberta das implicações benéficas na saúde do consumo moderado contribuiu para o menor consumo de melhor vinho. E um rótulo esteticamente agradável é imprescindível numa garrafa deste vinho. 
Ao novo âmbito chega a ajuda dos computadores e das novas tecnologias de impressão, que permitem praticamente tudo o que se possa imaginar, os rótulos são actual e indiscutivelmente um dos segredos da imagem do sucesso ou insucesso de um vinho num mercado cada vez mais conhecedor e exigente. 

Rótulos e contra-rótulos

O rótulo simples e único normalmente acompanha as marcas clássicas, nacionais e estrangeiras, a que não convém mudar a imagem sob risco de perder parte dela. Pode também ser acompanhado por uma gargantilha (normalmente com a data de colheita) ou outros elementos decorativos e na maioria das marcas modernas é secundado por um contra-rótulo com vários tipos de informação, que podem interessar ao leitor, como referência à vinha, castas, vindima, modo de acondicionamento e serviço, ou versar sobre tópicos emocionais ou sentimentais que nada acrescentam ao produto.
Os rótulos são fundamentais no contacto visual entre garrafa e consumidor e decisivos na escolha de compra. São também importantes para a imprensa da especialidade ou publicidade genérica onde continua a partilhar com o cartaz o encargo de toda a comunicação. 
O design de rótulos não pára de evoluir sendo a Itália líder na inovação e estética criadas e continua a haver rótulos desenhados por artistas conhecidos. Chateau Mouton Rothschild usa este tipo de rótulo desde a colheita de 1945 e em Portugal a marca Esporão adoptou desde o início a mesma estratégia para a sua marca mãe.
O Rosé Mateus da Sogrape, evocando o Palácio de Mateus, possui talvez o rótulo mais conhecido do mundo. Inadvertidamente, quando foi lançado, o proprietário do Palácio escolheu um pagamento pela utilização da imagem e declinou uma percentagem por cada rótulo impresso…

O rótulo e a qualidade do vinho

Um rótulo, por si só, garante-nos a legalidade do produto mas não obrigatoriamente a qualidade desejada. Em todo o mundo, continua a ser mais a idoneidade e consistência do produtor que assegura que levamos para casa o produto que pretendemos. Contudo, as novas marcas, num mercado de crescente concorrência, para conquistar e fidelizar clientes apostam tanto na apresentação do vinho como na sua feitura. Mercê desta aposta muitos conseguem singrar no tortuoso caminho de cimentar uma nova marca de vinho.
Nesta luta, os designativos especiais de qualidade têm vindo a adquirir um carácter algo promíscuo (e muitos dos melhores vinhos não utilizam qualquer destes designativos), mas, ainda assim, continuam a assegurar uma melhoria de qualidade relativamente aos vinhos mais simples da mesma casa: Superior, Escolha, Colheita Seleccionada, Reserva, Grande Reserva, Garrafeira, etc. ajudam o consumidor a conhecer os melhores vinhos do produtor, mas é sobretudo com prova e experimentação continuada que um determinado rótulo nos consegue transmitir a qualidade do vinho que está dentro da garrafa.


Rotulagem e legislação comunitária

Menções Obrigatórias

Denominação de Origem

Inscrição de “Vinho de Qualidade Produzido em Região Determinada” ou “Denominação de Origem Controlada” ou “Indicação de Proveniência Regulamentada”. 

Marca 

Volume nominal (l, cl ou ml). 

Nome ou firma do engarrafador e local da sua sede

Teor alcoólico volúmico adquirido seguido de “% vol” (é admissível uma tolerância de 0,5% vol.)

Portugal – obrigatório no caso do vinho se destinar a ser vendido fora do mercado nacional. 

Número do recipiente ou Lote



Menções Facultativas

Cor – “Tinto” ou “Branco”, antecedida da designação “Vinho”. 

Nome de uma ou mais castas – No caso de ser apenas o nome de uma casta, 85% do vinho em causa deve provir de uvas dessa casta. 

Ano de colheita – quando pelo menos 85% das uvas tiverem sido vindimadas no ano a que se refere a indicação. 

Portugal – facultativa para vinho destinado à venda no mercado nacional 

Recomendações ao consumidor 

Referências complementares – Vinho novo, Superior, Escolha, Colheita Seleccionada, Reserva, Garrafeira etc. 

Indicações quanto ao processo de elaboração 

Indicações referentes ao engarrafamento 

Nome da exploração vitícola – desde que o vinho provenha exclusivamente de uvas colhidas nas suas vinhas. 

Informações complementares – referências à história do vinho, do nome ou firma do engarrafador etc. 

Símbolo da marcação CEE (letra minúscula “e”) 

Distinções atribuídas ao vinho